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G20?

Como sabemos, o G20, é um grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia, tem se consolidado como um fórum global crucial para debater questões econômicas, sociais e ambientais que impactam o planeta. Contudo, há sempre uma pergunta que paira no ar após cada reunião: as promessas feitas se convertem em ações práticas? 

Vamos fazer uma rápida analisar as últimas cinco reuniões e tentar traçar uma analogia entre os compromissos assumidos e as mudanças efetivadas no cenário mundial e posteriormente tratar da deunião de 2024, no Rio de Janeiro.



Osaka (2019): Crescimento Econômico e Comércio Internacional

Em Osaka, as discussões focaram no fortalecimento do comércio internacional e no combate ao protecionismo. A promessa era clara: construir pontes entre nações e evitar disputas tarifárias que ameaçassem a economia global. Na prática, entretanto, vimos tensões comerciais, especialmente entre EUA e China, se prolongarem por anos.

Analogicamente: imagine uma ponte parcialmente construída. As bases estão lá, mas os pilares ainda não conectam as margens. Assim, o comércio global segue enfrentando turbulências, com avanços fragmentados e inconstantes.

Riad (2020): Pandemia e Recuperação Econômica

Com o mundo mergulhado na crise da COVID-19 (aliás, esse é um tema bastante controverso), o G20 em Riad enfatizou o apoio às nações mais vulneráveis e o fortalecimento da cooperação para distribuir vacinas de forma equitativa. O COVAX foi uma das iniciativas celebradas, mas sua execução sofreu com a lentidão e a desigualdade no acesso às doses.

Analogicamente: a reunião prometeu um "socorro emergencial" ao mundo, mas, quando o socorro chegou o impacto já havia sido grande, como se os bombeiros chegasse quando muitas casas já estavessem, todas, completamente queimadas. A resposta foi tardia para milhões de pessoas nos países mais pobres.

Roma (2021): Mudanças Climáticas e Sustentabilidade

Na capital italiana, a urgência climática dominou o palco. O compromisso com a neutralidade de carbono até 2050 foi reiterado, mas sem detalhes sobre como os países-membros alcançariam essa meta. Apesar de avanços como o Acordo Global sobre Metano, as emissões continuam subindo em várias economias.

Analogicamente: é como definir um prazo para emagrecer sem um plano de dieta ou exercícios. As intenções existem, mas a falta de ações práticas torna o objetivo distante.

Bali (2022): Saúde Global e Transformação Digital

A reunião em Bali discutiu a construção de um mundo mais resiliente por meio da saúde global e da transformação digital. Entre os destaques, estava o foco em sistemas de saúde robustos e a regulamentação de tecnologias digitais. No entanto, a adoção global de tecnologias inclusivas ainda enfrenta desafios técnicos e políticos, enquanto sistemas de saúde continuam frágeis em diversas regiões.

Analogicamente: é como prometer construir um prédio sustentável em terreno instável. Sem fortalecer as fundações (no caso, infraestrutura e políticas de saúde), os avanços digitais podem beneficiar poucos e deixar muitos para trás.

Nova Deli (2023): Transição Energética e Inclusão Global

A Índia priorizou a transição energética e a inclusão global. O apoio às nações em desenvolvimento foi tema central, mas os fundos climáticos prometidos ainda não foram disponibilizados em escala suficiente. A transição para energias renováveis avança, mas em ritmos desiguais, com países ricos liderando e nações pobres ficando para trás.

Analogicamente: é como organizar uma corrida onde alguns largam de carros elétricos e outros a pé. As intenções de igualdade estão presentes, mas os recursos e oportunidades ainda são discrepantes.

O Desafio de Transformar Palavras em Ações

O G20 tem uma função essencial de unir nações em torno de metas comuns, mas transformar discussões em ações concretas permanece um desafio e acaba ficando só nos discursos. A analogia recorrente em todas as reuniões é a de um plano arquitetônico elaborado, mas cuja construção sofre com atrasos, falta de materiais e mão de obra descompassada.

Enquanto o G20 continuar a operar como um fórum de intenções, e não de compromissos vinculantes, o mundo assistirá a um ciclo de promessas grandiosas e avanços tímidos. A esperança reside em uma mudança de paradigma: que as reuniões deixem de ser apenas um palco de declarações e se tornem verdadeiros canteiros de obras para a construção de um futuro mais equilibrado e sustentável.

O G20 de 2024, realizado no Rio de Janeiro, destacou-se por promessas ambiciosas e acordos que reiteraram temas frequentes do fórum, como desigualdade social, transição energética e mudanças climáticas, uma espécie de déjà-vu, sempre mais do mesmo, novamente. Entre as principais iniciativas, destacaram-se a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, medidas de mobilização contra a crise climática e propostas para a reforma das instituições de governança global​

Contudo, muitos desses tópicos não são novos para o G20. Por exemplo, compromissos relacionados à redução de desigualdades e combate à pobreza já figuraram em cúpulas anteriores, mas sua implementação prática continua limitada. O mesmo pode ser observado nas promessas climáticas, que muitas vezes enfrentam dificuldades para superar interesses políticos e econômicos locais dos próprios membros​

Uma inovação significativa foi a proposta de um imposto global de 2% sobre bilionários. Embora tenha sido bem recebida como uma primeira tentativa de enfrentar a concentração de riqueza, a medida ainda carece de mecanismos concretos para ser implementada​

O padrão de repetição de temas e a falta de resultados efetivos expõem um desafio central do G20: traduzir declarações de intenções em ações de fato exequíveis. As reformas nas instituições de governança global, como a OMC, permanecem emperradas, enquanto a implementação de ações climáticas e sociais esbarra em compromissos insuficientes por parte dos países mais ricos​

Esse cenário reflete a tensão entre discursos globais ambiciosos e realidades nacionais que frequentemente contradizem as promessas feitas no palco internacional. O desafio para o G20 continua sendo transformar declarações em mudanças palpáveis que beneficiem tanto países desenvolvidos quanto emergentes, ou continuar do blá blá blá, eles fingem que nos enganam e nós fingimos que somos enganados.

Outro ponto importante é o valor do custo de todo o circo montado, em cada reunião. A de 2024, no Rio de Janeiro, por exemplo, ultrapassou 500 milhões de reais, incluindo gastos com segurança, infraestrutura, transporte, hospedagem e organização. Esse valor foi financiado em parte pelo governo federal brasileiro e pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, com objetivo de posicionar o Brasil como líder em discussões globais sobre economia, sustentabilidade e justiça social.​

Com base nesse valor e considerando o custo médio de uma cesta básica no Brasil em 2024, que gira em torno de R$ 750,00, esse montante poderia sustentar aproximadamente 666.666 famílias, por um mês, ou cerca de 55.555 famílias, por um ano. Segundo o IBGE, uma família, em média, tem 3,3 indivíduos, ou seja, mais de 2 milhões de pessoas, por m mês, ou mais de 180 mil pessoas, por um ano.

Essa comparação destaca um dilema frequentemente debatido: o investimento em eventos globais de grande porte versus a destinação de recursos para necessidades sociais imediatas. Apesar de eventos como o G20 terem a possibilidade de benefícios estratégicos e econômicos de longo prazo (fato que inda não acontece), o contraste com as demandas urgentes da população levanta questões sobre prioridades na alocação de recursos públicos.

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